APRESENTAÇÃO
Diferente de outros
assuntos e atividades, a cultura religiosa nunca desenvolveu uma disciplina
crítica de maneira organizada e sistemática, tal como a crítica literária, a
crítica política, a crítica de arte, a crítica de cinema e de teatro, a crítica
econômica, etc. Por isso nunca ouvimos falar da existência de um crítico
religioso de ofício, pois não existe esta profissão, em razão da inexistência
de uma disciplina correspondente, tal como existem nos assuntos acima. O máximo
que encontramos de crítica religiosa provém das contestações e discussões dos
ateístas ou da rivalidade entre religiosos e entre intérpretes. Sendo assim,
nunca existiu um crítico religioso de formação, tal como alguém que se gradua
para se tornar, por exemplo, um crítico social ou político treinado
academicamente para tal tarefa. Por conseguinte, a crítica sobre a veracidade e
a conveniência da religião, pelos céticos, sempre aconteceu de maneira
desorganizada e assistemática.
De uma maneira geral, é
possível perceber, nos últimos séculos, uma decadência da influência da cultura
religiosa na sociedade e na vida dos indivíduos, ao ponto de, atualmente,
testemunharmos um modo de vida secular nunca experimentado antes na história. Em
outras palavras, vivemos um grau de secularismo inédito. Exceto em uns poucos
países, a religião não rege mais a vida social e política, sua influência se
restringiu tão somente à vida privada dos indivíduos, como uma opção pessoal.
Diante desta derrota
cultural, a religião passou a reagir, de modo a treinar religiosos intelectuais
e teólogos em cursos de Teologia nas universidades, a fim de defender, aproveitando-se da monumental
erudição atual, o ponto de vista religioso e apontar os defeitos da cultura
secular e da Ciência. Assim, é possível encontrar religiosos com grande
conhecimento nos assuntos seculares e na Ciência capazes de detectar as suas
falhas e omissões, daí com grande capacidade de criticar. De modo que, muitos
religiosos e teólogos hoje se ocupam minuciosamente em procurar incertezas e
omissões no conhecimento científico e na cultura secular, e pelo fato de alguns
deles terem formação acadêmica, conseguem realizar esta tarefa com considerável
exito. Enquanto que, por outro lado, não existe um treinamento acadêmico de
secularistas e de ateístas em assuntos religiosos para prepará-los para
elaborar críticas da religião com conhecimento aprofundado, o que coloca os
ateístas em desvantagem no debate, mesmo estando estes últimos do lado da
cultura secular que se tornou dominante. Sendo assim, é frequente a ocorrência
de erros nas críticas dos céticos, os quais são facilmente apontados pelos
religiosos. O defeito fundamental é que a maioria dos céticos e dos ateístas
não sabem sequer explicar o que entendem por religião, e quando tentam
esclarecer, são logo contestados pelos oponentes, em razão da precariedade dos
conhecimentos.
Então, desprovidos de
conhecimentos aprofundados e de experiência de convívio com o meio religioso, a
maioria dos ateístas atuais se volta para as críticas dos aspectos e dos fatos
mais baixos do mundo religioso, ou seja, a banda podre da religião, sendo que,
o que criticam, comumente, está presente ou acontece em quase todos os outros
seguimentos culturais, pois trata-se mais de eventuais desvios de conduta ou de
excepcionais falhas de interpretação do que de inerência religiosa, ou seja,
são defeitos e problemas que são comuns em muitas outras atividades da vida
humana.
Em linhas gerais, a ideia
destas postagens surgiu a fim de informar, aos leitores da língua portuguesa, os
estudos imparciais realizados por acadêmicos estrangeiros e de analisar
criticamente as ideias e as práticas religiosas por trás da pregação, da
persuasão, da catequese e da propaganda transmitidas pelas religiões. Sendo
assim, serão aproveitados os estudos acadêmicos publicados pelas universidades
norte americanas e europeias, quando as conclusões não forem simpaticamente
deferentes, uma vez que estes cursos universitários de religião são destinados,
na maioria dos casos, para religiosos que pretendem aprofundar o estudo da sua
ou de outras religiões, portanto estão repletos de interpretações
condescendentes para não desapontar os alunos.
Ademais, a publicação destes estudos não aconteceu com a intenção heroica e ousada de solucionar o debate entre
céticos e adeptos, visto que esta é uma tarefa que deverá ser realizada por
muitos pesquisadores durante anos. Longe disto, mas de trazer uma amostra, para
os leitores da língua portuguesa, de como as religiões em geral podem ser
criticadas em seus temas e atos mais fundamentais e estimados pelos seus
seguidores, sem a necessidade de recorrer a sua banda podre, a partir de um
conhecimento aprofundado de suas doutrinas e práticas, por alguém com longos
anos de pesquisas e de convívio no meio religioso para, então, demonstrar como
a religião, mesmo em seus pontos mais sagrados e estimados por seus adeptos, se
transformou, diante do progresso da cultura secular e das instituições laicas,
numa cultura inútil para a vida atual nas sociedades que acompanharam o
progresso cultural e, consequentemente, desenvolveram satisfatória qualidade de
vida. Bem como, revelar o que é a religião despida da pregação e da propaganda,
as quais comumente revestem a perspectiva confessional.
O histórico dos estudos religiosos no Brasil são marcados pela influência direta das religiões, principalmente cristã, no conteúdo programático. A própria disciplina de Ensino Religioso, oferecida na escola publica laica, tem na confecção de seu programa a participação das religiões na tomada de decisões sobre o que será lecionado. Muito boa a iniciativa de se fazer um trabalho analítico do fenômeno religioso escapando da tradição sobre como o tema é tratado no Brasil.
ResponderExcluirMuito legal a iniciativa.
ResponderExcluirA questão é que, qualidade de vida ainda é presente somente em países de primeiro mundo, além de que essa qualidade é somente social e física, mas não psicológica, enquanto a ciência não criar a pílula da felicidade, vencendo o vazio existencial, as religiões vão continuar a existirem com a a força total, pois esse é o papel fundamental das religiões, preencher o vazio existencial do ser humano.