por Octavio C. Botelho e Gabriel S. Bassi
(Obs: este estudo está disponível em versão mais atualizada em:
http://observadorcriticodasreligioes.wordpress.com/2014/01/04/o-festival-purna-kumbha-mela-e-o-banho-ritual-no-rio-ganges-poluido/)
http://observadorcriticodasreligioes.wordpress.com/2014/01/04/o-festival-purna-kumbha-mela-e-o-banho-ritual-no-rio-ganges-poluido/)
Vista aérea do Purna Kumbha Mela de 2001, o maior festival religioso do mundo, que acontece uma vez a cada 12 anos em Allahabad, Índia. |
O estudo abaixo é outro resultado da parceria
com Gabriel S. Bassi, dirigente
da Sociedade Racionalista da USP. Tal como o estudo sobre a Hajj (Peregrinação Islâmica), postado neste blog em 31/10/2012,
eu escrevi a primeira parte sobre o festival e ele a segunda parte sobre o grau
de poluição do rio Ganges, o rio sagrado mais adorado do mundo, visto que o momento
culminante deste evento religioso é o banho e o ato ritual de beber a água
deste rio sagrado que, paradoxalmente, se transformou, com o tempo, em um rio
muito poluído. Enfim, a sujeira da água do Ganges se tornou proporcional a sua
sacralidade. Mais uma vez, agradeço ao Gabriel Bassi pela sua contribuição.
As datas oficiais do festival Purna Kumbha Mela deste ano são anunciadas
com divergência, algumas fontes anunciam que iniciou em 14 de Janeiro, em uma
data conhecida na Índia como Makar
Sankranti (Festival da Colheita) e terminará em 10 de Março na Maha Shivaratri (a Grande Noite de Shiva). Outras informam que iniciou em
27 de Janeiro, na lua cheia deste mês (Pushya
Purnima), e terminará em 25 de Fevereiro, na próxima lua cheia. Quase tudo na Índia tem divergência, em
virtude da multiplicidade de seitas. Os organizadores do evento aguardam a
participação de 85 a 100 milhões de devotos desta vez.
O que é o Purna Kumbha Mela
Este é o maior festival religioso do
mundo. O número de participantes é tão grande que aparece no Livro dos Recordes
como a maior aglomeração de pessoas do planeta. O último Purna Kumbha Mela aconteceu em 2001, na cidade de Allahabad, Índia, na junção dos rios
Ganges e Yamuna, com a participação
estimada de cerca de 70 milhões de peregrinos, o que corresponde
aproximadamente à população da Alemanha (Scott, 2001: 08). Estritamente
falando, o festival acontece na junção destes dois rios e do rio mitológico Saraswati, o qual é mencionado nos
livros sagrados do Hinduísmo como localizado naquela região, porém,
geograficamente, não está lá, portanto trata-se de um rio fictício. A junção
destes três rios é conhecida como Triveni
Sangam na cultura hindu. A palavra Kumbha
(sânscrito), que significa pote, às vezes aparece escrita como Kumbh, conforme a grafia da língua
híndi.
O desfile das Adharas (Comunidades), um dos momentos atrativos do festival |
Em geral, o festival, que tem a duração de um
mês, acontece revezando-se em quatro cidades: Nashik, nas margens do rio Godavari;
Ujjain, nas margens do rio Shipra; Haridwar nas margens do rio Ganges e Allahabad (também conhecida como Prayag) na confluência dos rios Ganges e Yamuna. Os Kumbha Melas mais importantes (o Purna e o Maha) acontecem sempre em Allahabad.
A escolha destas cidades não foi por acaso, pois, segundo uma tradição mitológica
dos hindus, foram nestes locais onde caíram as gotas de néctar (amrita) do pote (kumbha) durante a luta entre os devas
(deuses) e os asuras (demônios) pela
sua posse, tal como será descrita abaixo. O momento culminante do festival é o
banho (snana) no rio, uma vez que os
devotos acreditam que esta prática apressa a conquista da Libertação (Moksha) do ciclo de nascimentos e
mortes. O principal dia de banho (snana)
será em 10 de Fevereiro (Domingo), o Mauni
Amasvasya Snana.
Sectariamente, o Kumbha Mela é um festival da tradição vaishnava (vishnuista) do Hinduísmo, no entanto, seguidores de
outros cultos hindus (Shaiva, Shakta,
Ganapatya, etc.) também participam do
evento.
A periodicidade do festival
Originalmente, o festival denomina-se Kumbha (pote) Mela (festival), ou seja, Festival do Pote (Mehta, 2010: 42). Entretanto,
conforme a regularidade, outros nomes são acrescidos para determinar a
periodicidade, sendo que, quanto maior o intervalo, mais importante o festival:
-
o Magha Kumbha Mela: acontece todo ano,
geralmente em Janeiro (Magha)
-
o Kumbha Mela: acontece uma vez a
cada quatro anos
-
o Ardha (meio) Kumbha Mela: uma vez a cada seis anos
-
o Purna (completo) Kumbha Mela: uma vez a cada doze anos e
-
o Maha (grande) Kumbha Mela: uma vez a cada 144 anos, ou seja, após doze Purna Kumbha Melas.
Os Naga Sadhus (ascetas nus) comparecem em grande número no festival |
Os últimos Purna Kumbha e Maha Kumbha
Melas aconteceram em 2001, ocasião na qual os dois coincidiram, portanto
uma data importantíssima para a religiosidade hindu. Tão importante que reuniu
cerca de 70 milhões de peregrinos (Scott, 2001: 08). O Purna Kumbha Mela anterior a este foi em 1989 e o Maha Kumbha Mela antecedente caiu em
1857, mas permanece dúvida se o festival realmente aconteceu, uma vez que não
existe registro. A suspeita é de que não
tenha ocorrido, uma vez que na ocasião acontecia uma revolta na Índia, quando
soldados indianos se rebelaram contra as indignidades religiosas e sociais. Daí
que civis descontentes deflagraram a Grande Rebelião, a qual só foi suprimida pelo
exército britânico em 1859 (Keay, 2000: 436-47). Em razão deste tumulto, é
provável que o festival não tenha acontecido.
A escolha do momento e do local
O revezamento do festival em cada
uma destas cidades (Allahabad, Haridwar,
Ujjain e Nashik), bem como a escolha do momento, dependem das posições
astrológicas do sol, da lua e do planeta Júpiter, previamente calculadas por
astrólogos hindus. Então, quando Júpiter está no signo de Aquários (Kumbha Rashi) e o sol e a lua estão em
Capricórnio (Makara Rashi), o
festival acontece em Allahabad (Prayag) no mês de Magha (Janeiro/Fevereiro). Quando o sol está em Aires (Mesha Rashi), a lua em Sagitário (Dhanus Rashi) e Júpiter em Aquários (Kumbha Rashi), o festival acontece em Haridwar nos meses de Phalguna e Chaitra (Fevereiro/Março/Abril). Quando Júpiter está em Leão (Simha Rashi), o sol e a lua em Aires (Mesha Rashi), acontece em Ujjain no mês de Vaishakha (Maio). E quando o sol e a lua estão em Câncer (Kataka Rashi) e Júpiter em Escorpião (Vrischika Rashi), acontece em Nashik no mês de Shravana (Julho).
A origem mitológica do
festival
Tal como quase todos os outros festivais religiosos
pelo mundo afora, o Kumbha Mela
também tem sua origem em um mito. Trata-se do mito da Samudra Manthan (Batedura do Oceano de Leite) narrado nos épicos Ramayana (Book I, Canto XLV) e Mahabharata (Adiparva, Astikaparva,
Seções XVII-IXX), no Vishnu Purana
(Book I, cap. IX), no Shiva Purana (Shatarudrasamhita cap. XXII) e, mais
extensamente, no Bhagavata Purana (Skanda VIII, caps. 7-12). As narrativas
nestes diferentes textos variam em detalhes, mas o que envolve o Kumbha Mela pode ser resumido da
seguinte maneira.
A Triveni Sangam, a junção dos rios sagrados Ganges (Gangá), Yamuna e o mítico Saraswati |
Num passado remoto, deuses (devas) e demônios (asuras) selaram um acordo de ambos trabalharem na tentativa de
produzirem néctar (amrita) através da
Batedura do Oceano de Leite (Samudra
Manthan). Após alguns obstáculos e desentendimentos, iniciou-se o trabalho.
Quando o Pote de Néctar (Amrita Kumbha)
surgiu do Oceano de Leite, deflagrou-se uma disputa por sua posse entre os
deuses o os demônios, a qual se transformou, em seguida, numa sangrenta guerra.
Até aqui a narrativa deste mito aparece nos textos escritos (Ramayana, Mahabharata, Vishnu Purana e
Bhagavata Purana), porém a narrativa seguinte foi conservada apenas através
da tradição oral. Esta afirma que a guerra durou doze dias e doze noites
celestiais, correspondentes à dose anos no mundo terrestre. Ademais, durante a
guerra entre os devas e os asuras, quatro gotas do Néctar (Amrita) caíram do pote (Kumbha) nas localidades de Ujjain, Nashik, Haridwar e Allahabad (Prayag), daí que o festival Kumbha
Mela é realizado nestas cidades (Mehta, 2010: 42).
A origem histórica
A documentação para se conhecer a história
dos Kumbha Melas é muito escassa e os
autores que se aventuram a esboçá-la se contradizem frequentemente, quando não
confundem mito com história. O primeiro registro da ocorrência de festivais,
com a participação numerosa de devotos, aparece nos relatos escritos pelo
visitante chinês Hwang Tsang (602-64
e.c.), o qual visitou a Índia nos anos 629-45 e.c., durante o reinado do rei Harshavardhana. No entanto, não é
mencionado o nome Kumbha Mela. De
modo que, Kama Maclean, no livro Pilgrimage
and Power: The Kumbh Mela in Allahabad, 1760-1954, afirma que os festivais
anteriores a 1760 eram importantes peregrinações, mas ainda não eram um Kumbha Mela, no sentido atual. Segundo a
autora, o primeiro Kumbha Mela em Allahabad aconteceu em 1870 (Maclean,
2008: 99). O Kumbha Mela de 1894, em Allahabad, foi mencionado por Paramahansa Yogananda, em seu livro Autobiography of a Yogi (capítulo 36). Já
o Imperial Gazetteer of India (vol. 13, p. 52) menciona e fornece os números de
participantes dos Kumbha Melas, em Haridwar, de 1796 (2,5 milhões) e de
1808 (2 milhões).
O banho ritual no rio Ganges, o momento culminante do festival |
O Purna
Kumbha Mela de 2001 teve uma ampla cobertura da imprensa (TV´s, rádios,
internet, jornais e revistas), daí que muitos líderes políticos da Índia se
interessaram em participar, a fim de se mostrarem (Scott, 2001: 08), inclusive,
a então presidente do Congresso, Sonia Gandhi, realizou um “mergulho simbólico”
no rio Ganges (Maha Kumbh Mela
concludes, The Hindu, online edition, February 22, 2001).
Tragédias
O
Imperial Gazetteer of India registrou
que no Kumbha Mela de 1819, em Haridwar,
430 pessoas, incluindo soldados e guardas, perderam a vida em um acidente (vol.
13, p. 52). Também que, uma epidemia de colega ocorreu durante o Kumbha Mela de 1892, nesta mesma cidade,
o que levou a formação da Haridwar
Improvement Society (vol. 13, p. 52-3).
No Kumbha Mela de 1954, em Allahabad,
ocorreu o acidente mais trágico dos festivais, que provocou um estouro de
pânico, no dia principal do banho (Mauni
Amavasya). Os números da tragédia variam conforme as fontes. O The Guardian informou que mais de 800
pessoas morreram e 100 ficaram feridas (The
Guardian, online edition, August 28, 2003), a revista Time anunciou que não menos de 350 pessoas foram pisoteadas e
afogadas até a morte, 200 foram consideradas desaparecidas e mais de 2000
ficaram feridas (Religion: The Urn
Festival, Time Magazine, February 08, 1960). Já o livro Law and Order in India, mais de 500
pessoas foram mortas (Saksena, 1987: 81 e 164).
Outra tragédia aconteceu no Kumbha Mela de 2003, na cidade de Nashik, nas margens do rio Godavari, quando o lançamento de uma
moeda, por um asceta, desencadeou um estouro de pânico que resultou na morte de
39 pessoas e feriu 150. (The Guardian,
online edition, August 28, 2003).
Sacralidade e poluição
O momento culminante do Purna Kumbha Mela é o banho (snana) no rio Ganges (chamado também de
rio Gangá pelos hindus, em virtude da deusa Gangá), bem como o ato ritual de
beber a sua água, no entanto, sabemos que este rio sagrado e seus afluentes,
com o tempo, se transformaram em rios muito poluídos. Enquanto que, para a
maioria das pessoas sensatas poluição é incompatível com sacralidade, milhares
de hindus ainda veneram estas águas imundas, na esperança de apressar a
conquista da Liberação (Moksha). Agora,
é interessante refletir sobre a insensatez de continuar atribuindo sacralidade
a um rio tão poluído, tal como insistem os hindus devotados, depois de tomar
conhecimento das informações do estudo abaixo, sobretudo pelo fato de que esta
imundice é frequentemente noticiada pela imprensa e alertada pelos órgãos de
defesa do meio ambiente na Índia.
A poluição do rio Ganges
Crianças no meio de uma imundice no rio Ganges |
A sacralidade do rio Ganges contrasta assustadoramente
com a sujeira da sua água. Para os hindus, banhar-se e beber a água do rio
Ganges (Gangá) significa purificar o corpo dos pecados passados e curar as doenças
do corpo e da alma. Inclusive muitos de seus veios são desviados para casas
como fonte de água “potável” e para a irrigação na agricultura. Porém, muito
dessa água não corrobora com seus poderes sobrenaturais de cura e de purificação.
Ao contrário, o rio Ganges, como um todo, é considerado uma fonte impressiva de
xenobióticos potencialmente letais, além de compostos cancerígenos e
teratogênicos. Mas, esse problema não ocorre somente na Índia, tal problema se
origina muito além das fronteiras indianas, acumulando-se até chegarmos ao
calamitoso delta do Ganges onde deságua no Golfo de Bengala.
Como os países vizinhos
contribuem para o aumento da poluição
Apesar de grande parte das nascentes localizar
ao longo do Himalaia, um dos afluentes do rio Ganges se localiza em Bangladesh. Este país está localizado ao
leste da Índia, sendo considerado um dos países mais pobres do mundo, o que
acarreta em seu despejo em afluentes do Ganges e na sua presença nos cereais
irrigados por esses afluentes (e em concentrações excepcionalmente altas,
principalmente no arroz polido (Alam
et al., 2002).
Devoto observa a passagem de um cadáver boiando no rio Ganges |
Sabe-se que entre 40 a 60% do arsênico
ingerido pela água é retido no organismo (Farmer e Johnson, 1990), levando-se
de 8 a 14 anos de sua ingestão contínua para se alcançar um real impacto na
saúde (Rehana
et al., 1995). Estudos mostram que o arsênico pode inibir
a síntese de DNA, levando a aberrações cromossômicas (Nataranja
et al., 1996). Na pele, inicialmente há um efeito
eritematoso, levando à melanose, hipercertose e descamação, podendo chegar, ao
longo do tempo, ao desenvolvimento de carcinomas (Masholz,
1983).
Um dos seus possíveis mecanismos carcinogênicos é a ativação de vírus
oncogênicos, tais como o HPV (papiloma virus) (Stohrer, 1991). Além
disso, a exposição crônica ao arsênico pode levar à anemia por destruição das
hemácias (Kyle
e Pearse, 1965), podendo também interferir no metabolismo
do folato e do DNA, sendo potencialmente teratogênico (Westhoff
et al., 1975).
Despejo
de pesticidas e metais pesados
Existem inúmeras indústrias que despejam
esgoto industrial diretamente no rio Ganges, contribuindo com até 25% do total
de esgotos despejados (AIC,
1994).
Saxena et al (1966) já havia concluído, ainda na década de 1960, que 5 curtumes,
10 indústrias têxteis e muitas outras indústrias ao longo do Ganges despejam
37,15 milhões de galões por dia de contaminantes, como metais pesados e lixo
industrial. Em especial, curtumes localizados em Kampur despejam inúmeros compostos químicos, principalmente o
cromo, excedendo em até 70% os níveis máximos recomendados para os seres
humanos (nível que se mantém desde 1995) (AFP,
2010).
Gupta
et al. (2009) mostraram que duas espécies de peixes
comuns no rio Ganges estão contaminadas por metais pesados, tais como zinco,
chumbo, cádmio, cobre e cromo, excedendo números até 100 vezes o permitido. Em
amostras de água em Saligarh e Sahampur, os níveis de cádmio, ferro,
cobre e cromo estavam tão altos e fora dos padrões máximos de segurança, que a
sua administração a bactérias causou mutações e aberrações cromossômicas (Tabrez
e Ahmad, 2011; 2009).
Despejo de esgoto não tratado no rio Ganges |
O uso de pesticidas é comumente usado em todo
o vale do Ganges, especialmente na agricultura do arroz. É, sem dúvidas, um dos
poluentes mais difíceis de se controlar, visto ser despejado em vários
afluentes do Ganges, incluindo grande parte provindo de Bangladesh (Datta
et al., 2009). O problema dos pesticidas (principalmente
dos organoclorados, como o DDT e o aldrin) é a sua alta resistência à
degradação ambiental (Hung
e Thieman, 2002). Esses compostos podem ser bioacumulados ao
longo do tempo, podendo levar à ações tóxicas sobre o sistema reprodutor
(teratogenia) e nervoso (Danzo,
1998;
Hellawell,
1988),
distúrbios do sistema endócrino (Hileman,
1994),
cânceres de mama, fígado, testículos e esterilidade (Davies
e Bradlow, 1995; Coco
et al., 1997) e atividade carcinogênica (UNEP, 2003).
Estudos mostram que o lençol freático de Bangladesh está contaminado com arsênico
em doses 60 a 1000 vezes o permitido, devido ao uso em pesticidas e pelas
características geológicas da região (Datta et al., 2009; Alam
et al., 2002). No rio Gomti,
afluente do Ganges, estudos mostraram níveis altíssimos de contaminação por
pesticidas de vários tipos, tais como DDT, heptacloros, lindane e eldrin
provindos do uso principalmente na agricultura (Malik
et al., 2009). Rehana
et al. (1995) coletaram 36 amostras de água ao longo do
estreito superior do rio Ganges (em Kachla,
Fatehgarh e Kanauj), detectando
níveis de pesticidas, tais como DDT e organosfosforados, até 5000 vezes mais
alto que o permitido (Agencia
de Proteção Ambiental dos EUA, 1980). E esse tipo de
contaminação aparenta ser endêmica, pois há níveis também altíssimos de
pesticidas nos rios de cidades como Naroda
(Rehana
et al., 1996), Okhla
(Asleem
e Malik, 2005), Mathura (Asleem
e Malik, 2003), Lucknow
(Tripathi
et al., 2009), Farrukhabad
(Agnihotri
et al., 1994), Ramnagar
e Rjaghat (Varanasi) (Nayak
et al., 1995). Talvez um dado ainda mais alarmante é que
o próprio lençol freático em volta do Ganges também está contaminado por
pesticidas (Sankararamakrishnan
et al., 2005).
Devotos bebendo a água do rio Ganges |
Com níveis de pesticidas tão altos nas águas
dos rios, não é surpresa encontrar esses contaminantes em animais aquáticos
pelo rio Ganges. Vários estudos mostraram que há também alto nível de
contaminação de peixes e outros animais aquáticos (que são consumidos e
vendidos pela população local, inclusive aos turistas) por esses mesmos
pesticidas tanto no Ganges como em seus afluentes (Das
et al., 2002; Jabber et al., 2001; Guzella
et al., 2005). O grau de contaminação da água do rio
Ganges é tão alto que uma pesquisa de 2002 revelou que até os golfinhos de água
doce localizados em Patna estavam
contaminados com altos níveis de DDT, aldrin e endosulfan (Kumar et al., 2002)
Obviamente
que a contaminação da água e dos animais aquáticos pode levar à contaminação
humana. Kumar
e colaboradores (2001) mostraram que os indianos em torno do
Ganges também estão contaminados por pesticidas em níveis acumulados muito
acima do seguro. Em 2001, Shukla e colaboradores
analisaram o conteúdo de carcinomas de vesículas biliares de 30 pacientes das
regiões de Bihar e Uttar Pradesh, encontrando altos níveis
dos pesticidas BHC, DDT, aldrin e endosulfano. Pessoas que vivem ao longo das
margens do Ganges nas cidades de Uttar
Pradesh, Bihar e Bengala têm
maior propensão de desenvolver câncer que o resto do país, tendo-se a
incidência de câncer de bexiga como o segundo mais alto do mundo e a incidência
de câncer prostático como o maior de toda a Índia (Gosh,
2012).
Curiosamente, as maiores incidências de cânceres de língua, boca, nasofaringe,
estômago, vesícula biliar e útero na Índia ocorrem justamente em torno do delta
do Ganges (Nadakumar
et al., 2005).
Esgotos
Talvez o primeiro artigo mostrando a
qualidade da água veio de Lakshminarayana em
1965, mostrando que a qualidade da água do rio Ganges em Varanasi (Benares) diminui nos períodos de chuva (monções, que
ocorrem de Junho a Agosto), sem variar durante o inverno e o verão. Porém, o
maior contribuinte para a contaminação do rio Ganges talvez seja o despejo de
esgoto sem tratamento. Em Benares, ao menos 32 esgotos provindos da cidade
deságuam no rio Ganges, entre eles plástico, animais e corpos humanos podem ser
vistos flutuando no rio, e em Kampur
são as unidades industriais, especialmente os curtumes, que descarregam
produtos químicos e metais pesados na água (Ramachandran,
2011).
Cães comendo um cadáver na margem do rio Ganges |
Um estudo de 1976 mostrou que o despejo de
esgoto diretamente no Ganges, na cidade de Benares, é o responsável pela
presença de organismos patogênicos na água (Agarwal
et al., 1976). Dados estatais afirmam que todos os dias
são despejados 2,9 milhões de litros de esgoto não tratado somente no Ganges,
sendo que o sistema de tratamento comporta somente 1,1 milhão de litros/dia. Em
Benares, o tratamento de esgoto depende de estações de bombeamento, porém a
cidade ainda sofre com blecautes que podem durar até 12 horas. Em tempos de
monções, essas estações são desligadas por um período de 3 a 5 meses por ano (Hamner
et al., 2006). Além disso, o rio Ganges fornece até 40%
da água consumida em 11 estados indianos (Hindustan
Times, 2012). Os níveis de coliformes são tão altos que
o uso de sua água até para a agricultura não é indicado (Daftuar,
2011).
Água do rio Ganges engarrafada para comercialização |
A Índia é um local endêmico para contaminação
por cólera, principalmente em sua parte oriental (Sur et al., 2007; Hamner
et al., 2006). Bilgrami
e Kumar (1998) encontraram índices alarmantes de
coliformes até 800% acima do permitido, além de níveis altíssimos de E. coli e C. perfringens no Ganges. De at al. (1993)
não recomendam o uso da água do rio Ganges para beber ou tomar banho devido ao
alto nível de contaminação do rio Ganges por bactérias potencialmente nocivas,
tais como aeromonas, coléricas, salmonelas e shiguela. A contagem de coliformes
da água em Benares alcança 60 mil organismos por 10 ml de água (Ramachandran,
2011)
(os níveis seguros para locais de recreação é de 235
organismos por 10mL de água - algo em torno de 25 mil vezes acima
do recomendado), rio abaixo a Benares, essa contagem chega a 1 milhão por 10 ml
de água (Ramachandran,
2011).
A área em torno do rio Ganges é considerada
local epidêmico de distúrbios gastrointestinais causados pelo V. cholera (Organização
Mundial da Saúde; Levine
et al., 2006). Annapurna e Sanyal
(1977) mostraram que os indivíduos em torno do rio Ganges estão
em constante exposição à bactéria Aeromonas
hydrophila, causadora de diarreia, que se acumula nas fontes de água não
tratada (provindas principalmente do rio Ganges ou do lençol freático). Padey
e colaboradores (2005) mostraram que um dos principais causadores
de doenças entéricas em Benares é a contaminação da água do Ganges, além da
estratificação socioeconômica. E aparentemente casos de epidemias de cólera
associadas ao uso de água não tratada não são raras nessa região (Das
et al., 2009; Mukherjee
et al., 2011).
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Para conhecer uma galeria de
fotos do Kumbha Mela, visite:
Vídeos:
Para a poluição do rio
Ganges, visite:
Meus Deus...pense num povo seboso!!! Independente de adorarem ratos ou gente morte, deveriam ter o mínimo de higiene!!!
ResponderExcluirbrasileiro n pode falar nada
ExcluirÉ claro que pode meu amigo. Uma coisa é ser pobre, outra é não ter higiene. Beber água do Gangis só para rituais, templo de ratos. Nossa que nojo. Eu teria menos nojo se eles matassem e comessem os ratos, não convivessem com eles.
ExcluirFoge qualquer lógica natural,se o rio é tão sagrado para eles por q não cuidar e preservar esse rio,resumindo pessoal porco e nojento.
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