quarta-feira, 26 de junho de 2013

|ESTUDO| A Cientologia e a Pseudocientificidade da Dianética


Por Octavio da Cunha Botelho e André Luzardo
           
O ator Tom Cruise discursando em um auditório da
Igreja da Cientologia; um dos adeptos mais ilustres.
Dentre as tantas maneiras de classificar as religiões, os historiadores as dividem naquelas que surgiram no período da “plena escuridão da história”, e aquelas que nasceram na “plena luz da história”. As primeiras, obviamente, são aquelas que foram formadas nos tempos mais antigos, ocasião quando a prática de registros era precária, ou até mesmo inexistente, bem como a escrita e a documentação um privilégio de poucos alfabetizados.  Assim, o que conhecemos delas limita-se, quase na totalidade, aos relatos da tradição, cuja confusão com mitos e lenda, dificulta a identificação dos fatos históricos. Por outro lado, nas religiões surgidas na “plena luz da história” o registro é farto e bem documentado, de maneira a nos transmitir uma clara ideia de como uma religião surge e se desenvolve em seus primeiros anos, com base em fontes de fora do relato tradicional.
A partir do momento quando as religiões começaram a surgir com uma mensagem dirigida para toda a humanidade, diferente do passado, quando a mensagem era dirigida para um povo exclusivamente, estas modalidades de religiões passaram a ser denominadas pelos historiadores de Novos Movimentos Religiosos (alguns autores preferem o termo ‘cultos’, enquanto outros desaprovam, em vista do sentido pejorativo que a palavra culto adquiriu com o tempo). As datas divergem, porém o mais coincidente é apontar o surgimento da Sociedade Teosófica, na segunda metade do século XIX, cujo ensinamento era dirigido para toda a humanidade, portanto a primeira religião de escopo universal, como o ponto de partida. Do mesmo modo, a Igreja da Cientologia é um destes Novos Movimentos Religiosos, curiosamente fundada por um escritor de livros de ficção científica, L. Ron Hubbard (1911-86), depois do fracasso da tentativa de promover a sua grande descoberta, a Dianética, como uma ciência, daí foi obrigado, para sobreviver, a inserir a Dianética em um contexto religioso, então fundou a Igreja da Cientologia, episódio que será relatado adiante.  Cercada de polêmicas, ela é conhecida internacionalmente pela sua capacidade de atrair grandes celebridades, pois reúne em seu séquito estrelas de grande reputação como Tom Cruise, John Travolta, Kirstie Alley, Kelly Preston e outros figurões.   
O estudo abaixo é mais um trabalho em parceria, desta vez com André Luzardo da Sociedade Racionalista-USP. Ele contribuiu com a segunda parte do artigo, a qual explica ao leitor o que é a Dianética, doutrina central na Cientologia, com suas teorias, isto é, a Mente Reativa e os Engramas; bem como a sua terapia, a Auditoria e o E-meter, e conclui com uma avaliação crítica da sua cientificidade. Gostaria de lhe agradecer pela gentileza em colaborar.

Considerações iniciais

L. Ron Hubbard (1911-86), criador da Dianética e fundador da
Igreja da Cientologia
Um relato do que é a Cientologia é incompreensível sem o conhecimento da personalidade e do caráter da sua figura central, o seu fundador, o carismático e controvertido L. Ron Hubbard. Nas palavras do historiador da religião, Dorthe R. Christensen: “Ele não é uma figura sem significado, ele é a única fonte suprema e o recurso legitimador das alegações terapêuticas e religiosas da Igreja. L. Ron Hubbard e Cientologia sempre foram e sempre serão, muito provavelmente, inseparáveis” (Christensen, 2004: 227). Entretanto, suas biografias são enormemente divergentes, pois de um lado ele é retratado, por seus seguidores e admiradores, como um explorador dedicado, que realizou distantes viagens, inclusive para o Oriente, como um engenheiro brilhante, bem como um humanista, um educador, um administrador, um artista e um filósofo. Também, como um herói militar e um estudante com uma bem sucedida carreira acadêmica, e que a sua grande descoberta, a Dianética, “solucionou o enigma da mente humana” (Urban, 2012: 335 e 338). Por outro lado L. Ron Hubbard é descrito por seus críticos, por jornalistas, por ex membros e por algumas decisões judiciais como um mentiroso, um charlatão e um insano, com a acusação de que quase tudo que ele escreveu sobre si mesmo era falso (Gardner, 1991: 246 e Urban, 2011: 26 e 2012: 335). Ademais, tal como o seu próprio filho, L. Ron Hubbard Jr., revelou: “mais de 90 por cento do que meu pai escreveu sobre si mesmo é mentira” (Urban, 2011, 26). Os relatos de suas viagens e de suas proezas foram tão exagerados que um membro dissidente da Cientologia observou: “ele contou tantas histórias de suas façanhas, na América do Sul, nas Índias Ocidentais e em lugares, que ele teria de ter pelo menos 483 anos para ter tempo para fazer todas aquelas coisas” (Urban, 2011: 33). Os sinais de fraudes eram tão claros que o também cientologista dissidente, Gerald Armstrong, designado para ajudar a escrever a biografia de Hubbard, descobriu durante a sua pesquisa que “virtualmente tudo que Hubbard tinha dito sobre sua vida era falso” (Urban, 2011: 26-7). Enfim, o relato oficial da Igreja da Cientologia sobre a vida de Hubbard é considerado pelo pesquisador D. R. Christensen, não como um conjunto de fatos históricos, mas sim como uma “mitologia hagiográfica”, isto é, uma narrativa idealizada e composta, bem auto conscientemente, a partir de temas míticos (Christensen, 2004: 227-58 e Urban, 2011: 27-8). Enfim, L. Ron Hubbard inventou sua própria mitologia.
            Alguns autores desmentem as suas façanhas da seguinte maneira. “Ele nunca foi um aventureiro fanfarrão ou um destacado oficial naval. Embora ele alegasse ser um físico, seu conhecimento de ciência era desprezível (...) sua miopia o manteve fora de Annapolis (uma importante academia naval nos EUA). Sua única educação superior foi na escola de engenharia da George Washington University, onde ele se afastou após dois anos de notas horríveis. Seus quatro anos na Marinha, durante a Guerra, são resumidos em um relatório dizendo que ele ‘carecia de qualidades essenciais de liderança (...) não considerado qualificado para o comando e promoção’. O mais próximo que ele chegou de um combate foi no comando de um caça submarino. Em seu cruzeiro experimental, Hubbard confundiu um depósito magnético com um submarino e sua batalha contra um inimigo inexistente lhe custou a perda do comando”. E também, “Hubbard foi um covarde fingido que tinha feito tudo para evitar estar em ação (de combate)” (Gardner, 1991: 246 e mais detalhes em Melton 2009: 20).
            Sua personalidade é também avaliada de modo divergente. Alguns o descrevem como uma figura carismática, envolvente e sedutora. Para aqueles que o conheceram pessoalmente, ele tinha uma personalidade envolvente, ele dominava a cena com sua perspicácia e seu inesgotável estoque de anedotas, era um charmoso inescrupuloso e persuasivo, não só em um grupo social, mas também com as mulheres. Com seu imponente cabelo vermelho, sua boca grande e um rosto gorducho, Hubbard é descrito por aqueles que o conheceram como uma personalidade que, quer encantava ou repudiava imediatamente, dominando as conversas e encantando com as anedotas e sua inteligência vívida. Quando ele falava, ninguém conseguia lhe roubar o espaço. “Até mesmo os mais ferozes críticos de Hubbard, tal como o ex cientologista Jon Atack reconheceu que ele (Hubbard) tinha um impressionante e quase inexplicável poder carismático; era quase impossível, Atack relata, escrever um convincente quadro do carisma de Hubbard ou explicar a notável devoção que seus seguidores sentiam por ele” (Urban, 2011: 54).
Prédio da Igreja da Cientologia em Los Angeles, EUA.
Por outro lado, já os que o detestavam, estes afirmavam que Hubbard era “um vigarista e obviamente um impostor. Mas ele não era um idiota. Ele conseguia encantar qualquer pessoa. Ele transpirava maldade, malícia e estupidez, mas perfeitamente amistoso para se conversar” (Urban, 2011: 30). Alguns autores da época descreveram Hubbard como não apenas um vigarista, mas na verdade como o maior vigarista do século. O seu ex biógrafo Gerald Armstrong afirmou que “ele foi uma mistura de Adolf Hitler, Charlie Chaplin e Barão Munchhausen” (Urban, 2011: 54). O escritor científico Martin Gardner diagnosticou Hubbard como “um homem profundamente perturbado, um mentiroso patológico que se deteriorou de um trapaceiro charmoso para um egomaníaco paranoico, incapaz de distinguir entre fato e sua própria ficção fantástica” (Gardner, 1991: 246).
            Por outro lado, de acordo com o seu próprio relato, Hubbard alegava ter explorado as incontáveis minúcias das tradições espirituais do mundo, do curandeiro de Sioux aos místicos orientais, da psicanálise à hipnose, da cura pela fé e magia à experimentação com drogas. Tentativas foram feitas para descobrir quais escolas e sistemas eram viáveis. Então, suas ideias misturavam Freud, acupuntura, cristais de cura mágica, santuário de milagre, cura pela fé, vodu e narcosíntese. O resultado desta eclética pesquisa foi a Dianética (Dianetics), a sua “revolucionária nova ciência da mente humana” (Urban, 2011: 29). De modo que Hubbard reuniu uma grande quantidade de diversos elementos científicos, ocultos, psicológicos, filosóficos e de ficção científica, remendando-os grosseiramente juntos numa única, nova e surpreendente bem sucedida síntese (idem, 29). De modo que, para milhares de cientologistas pelo mundo afora, que ainda seguem seus ensinamentos hoje, entretanto, Hubbard foi nada menos que um explorador heroico, que revelou os mistérios mais antigos, não só de todos os cantos da Terra, mas também da mente humana (Urban, 2011: 54). Toda esta miscelânea lhe rendeu formidáveis resultados financeiros, pois quando faleceu em Janeiro de 1986, ele somava um patrimônio de US$ 600 milhões (Dehsen, 1999: 90). 
Em razão de tudo isto, o historiador da religião Hugh B. Urban definiu Hubbard mais como um empresário americano e um bricoleur espiritual, este último termo francês no sentido de um criativo reciclador de produtos culturais com a habilidade de encaixá-los em um conjunto coerente, do que propriamente um líder religioso, levando-nos a projetar paralelamente uma dedução de que a Cientologia está também mais para uma “empresa religiosa” do que uma religião no sentido convencional (Urban, 2011: 26 e 29).

Da ficção científica à religião

            Na história das religiões conhecemos casos de tradições religiosas que foram fundadas pelos mais estranhos personagens, porém, uma religião fundada por um autor de livros de ficção científica é um fato muito excepcional. Pois, antes de sua carreira como fundador de uma das mais controvertidas entre as novas religiões do mundo, L. Ron Hubbard era mais conhecido como um autor de pulp fiction altamente prolífero. Começando seu trabalho no início dos anos 1930, ele escreveu um número verdadeiramente estonteante de obras de ficção científica, de fantasia, de mistério e de contos de aventura, se tornando uma das figuras chaves na era dourada da pulp fiction (Urban, 2011: 33). Os anos 1930 e 1940 foram os anos dourados da ficção científica e Hubbard soube aproveitar o momento.
            Ademais, havia, naquela época, uma clara afinidade entre ocultismo e ficção científica, desde a era dourada até os anos 1970, de maneira que os fãs de ficção científica também tendiam a se interessarem pelos reinos sobrenaturais da magia, dos fenômenos psíquicos e das habilidades paranormais. Todos estes temas apareceram na ficção de Hubbard e no início da Cientologia. Ele escrevia de 70 mil a 100 mil palavras por mês, despontando-se entre os mais prolíferos escritores da era pulp fiction. Ele era capaz de escrever sobre aparentemente qualquer assunto e sobre qualquer gênero, dos exploradores de floresta aos mergulhadores das profundezas do mar, do G-men e gangsters, cowboys e azes voadores até alpinistas, detetives e espiões, usando muitos pseudônimos. Pelo menos duas de suas primeiras obras são ainda consideradas clássicas do gênero: o conto de horror pulp, Fear, e sua novela pós-apocalíptica, Final Blackout (Melton, 2009: 19 e Urban, 2011: 33-4).
            Entretanto, Hubbard não saltou diretamente da ficção científica para a religião, antes disto, ele anunciou sua nova “descoberta científica”, a Dianética (Dianetics), o resultado de sua exploração e síntese de uma grande quantidade de diferentes tradições espirituais, psicológicas e filosóficas, para chegar a tanto, ele alegou ter examinado todas as perspectivas conhecidas da mente humana.
Capa da revista Astounding Science Fiction 
onde foi publicado o primeiro artigo sobre a
Dianética de L. Ron Hubbard, em 1950.
Bem, quem ouve os elogios de Hubbard e os dos cientologistas dirigidos à cientificidade da Dianética, pensa logo que a divulgação desta “nova ciência” foi feita em alguma das mais prestigiadas revistas científicas da época: na Nature, na Science, na Scientific American ou em outra revista de uma importante universidade. Nada disto, muito pelo contrário, esta “nova ciência” de Hubbard inicialmente foi publicada, como um artigo, numa revista popular chamada Astounding Science Fiction (Ficção Científica Espantosa), da qual Hubbard tinha sito um colaborador constante, em Maio de 1950. A capa desta edição exibia uma criatura alienígena, com a aparência de um gorila cabeludo e com olhos amarelos de gato, em outras palavras, um monstro. A capa anunciava o artigo de Hubbard com o título de “Dianetics, A New Science of the Mind” (Dianética, Uma Nova Ciência da Mente), o qual não foi apresentado como “ficção científica espantosa”, mas sim como uma nova ciência revolucionária da mente humana, ou seja, uma obra com pretensão de ciência publicada numa revista popular de ficção... uma incompatibilidade. Uma versão expandida desta obra foi então impressa na forma de livro no mesmo ano com o título de “Dianetics: The Modern Science of Mental Health” (Dianética: A Ciência Moderna da Saúde Mental), a qual se transformou, nos anos seguintes, em um best seller (Robinson, 2001: 380 e Manca, 2012: 80). Esta “nova ciência” foi anunciada como nada menos que uma radical revolução para a humanidade, foi comparada à descoberta do fogo e superior à invenção da roda e do arco (Urban, 2011: 43). Isto é, através de uma propaganda acompanhada de sensacionalismo, aparentando mais com o lançamento de um produto atrativo de consumo, portanto muito diferente da discrição habitual da divulgação científica. O escritor científico, Martin Gardner, definiu a Dianética como uma “hilária paródia da Psicanálise” (Gardner, 1991: 247).
”Não foi por acaso que a nova “ciência” da mente de Hubbard foi publicada pela primeira vez numa revista de ficção científica, uma vez que seus clamores e retórica apelavam para o mesmo público que tinha devorado seus contos de ficção por uma década. Astounding Science Fiction não classificou o texto de Hubbard como ficção, mas sua linguagem foi claramente confeccionada para o fã de ficção científica (...) Dianética prometia transformar o cérebro normal do leitor em um cérebro ótimo e assim ajudar o homem em seu processo de evolução rumo a um organismo superior” (Urban, 2011: 43). O próprio Hubbard alegou também que o objetivo da Dianética não era outro que criar uma espécie de novo homem ou Homo Novis com habilidades sobrehumanas. “A pessoa deixa de responder como Homo Sapiens e adquire uma fantástica capacidade de aprender e agir” (Urban, 2011: 43-5 e Rothstein, 2004: 110-1).
Hubbard definiu a Cientologia como “o estudo e o manejo do espírito no relacionamento consigo mesmo, com os universos e com a outra vida”. Para ele “Dianética é uma precursora e um subestudo da Cientologia. Dianética vem das palavras gregas dia (através) e nous (mente ou alma). Dianética é o que a alma está fazendo com o seu corpo” (Hubbard, 2007: 05). Também, ele definiu que os objetivos da Cientologia são formar “uma civilização sem insanidade, sem criminosos e sem guerra, onde o apto possa prosperar e os seres honestos possam ter direitos, e onde o homem é livre para se erguer até às maiores alturas” (Robinson, 2001: 379).

O nascimento da Cientologia

Em seguida, por nunca ter sido reconhecida como ciência, no meio científico, esta nova pseudociência de Hubbard, a Dianética, teve de redirecionar seu objetivo, apesar de nunca ter deixado de ser anunciada como ciência pelos cientologistas. Então, ele tratou de transformá-la em religião, daí iniciou os trabalhos da fundação da Igreja da Cientologia (Church of Scientology). Em razão disto e também pelo descontrole que tinha se transformado a prática da Dianética, quando se transformou numa moda nacional nos EUA, logo após a sua divulgação, Hubbard decidiu organizar a Cientologia, para poder ter controle sobre a sua disseminação.
Hubbard experimentado o E-meter nos tomates,
mais um de seus experimentos pseudocientíficos.
Então, sua pesquisa o conduziu ao reino espiritual e, em 1952, a “filosofia religiosa aplicada” da Cientologia nasceu. Ela foi descrita como um assunto separado da Dianética, uma vez que não tratava apenas da mente, mas também da própria natureza espiritual da pessoa. O objetivo da Cientologia era reabilitar totalmente a natureza espiritual de um indivíduo, incluindo a reabilitação de todas as habilidades e a realização do pleno potencial da pessoa. Daí então, em 1954, a primeira Igreja da Cientologia foi fundada em Los Angeles, California (Robinson, 2001: 380). A religião continuou a crescer durante os anos 1950 e 1960, e muito mais igrejas foram fundadas no mundo. Em 1966, Hubbard afastou-se da sua posição de diretor executivo da Igreja a fim de dedicar-se às pesquisas no nível mais alto de espiritualidade. Em Agosto de 1967, ele formou a “Sea Organization”, um grupo de membros dedicados da Igreja e continuou suas viagens e pesquisa a bordo de vários navios adquiridos pela Igreja (Gardner, 1991: 248). Deste esta época até sua morte em 1986, Hubbard escreveu e publicou materiais sobre os assuntos da Dianética e da Cientologia, como também um número de obras de ficção científica (Robinson, 2001: 380). A Igreja da Cientologia possui atualmente mais de 700 centros em 65 países (Urban, 2012: 335).

Cientologia, um resumo

             A prática principal da Cientologia é a Dianética, uma forma de psicoterapia extraída em grande parte da Psicanálise, com a mistura de ingredientes religiosos e da ficção científica. A Igreja da Cientologia acredita que o homem é basicamente bom, que está buscando sobreviver e que sua sobrevivência depende de si mesmo e de seus companheiros, e da conquista da fraternidade com o universo. Isto é alcançado na Cientologia por dois métodos conhecidos como “auditoria” e “treinamento”. A “auditoria” (aconselhamento de um indivíduo pelo outro) da Dianética e da Cientologia consiste de um “auditor” que orienta alguém através de vários processos mentais, a fim de livrar o indivíduo dos efeitos da “mente reativa” e então alcançar plenamente a natureza espiritual da pessoa. A “mente reativa” é aquela parte da mente que opera com base no estímulo-resposta, e é composta de memórias residuais de dor e incidentes desagradáveis (denominados “engramas”), os quais exercem controle involuntário e inconsciente sobre o indivíduo. Durante esta prática é utilizado um aparelho para detectar e medir a manifestação dos “engramas”, conhecido como E-meter (detector de “engramas”), do sujeito que está sendo submetido à “auditoria”.
            Quando o indivíduo está livre destes efeitos indesejáveis, diz-se ter alcançado o estado de “limpo” (clear), que é a meta do aconselhamento da Dianética. Um indivíduo então passa para níveis superiores de aconselhamento, lidando com sua natureza com um ser espiritual imortal (conhecido na Cientologia como um “thetan”). Os cientologistas acreditam que um “thetan” já viveu muitas vidas anteriores e viverá muitas outras vidas após a morte do seu corpo atual (a doutrina da reencarnação).
            O treinamento da Cientologia consiste de muitos níveis de cursos (1) melhoria da vida diária dos indivíduos fornecendo-lhes várias ferramentas e (2) aprendizado das técnicas de “auditoria”, de maneira que uma pessoa possa aconselhar outras. Os cientologistas falam da presença de um ser supremo como representando o infinito, mas não adoram divindade alguma, ao invés disto, gastam seu tempo na aplicação dos princípios da Cientologia nas atividades diárias. Reuniões regulares na igreja acontecem, contudo, ocupam-se em discutir os princípios da Cientologia e sua aplicação (Robinson, 2001: 380-1).

Controvérsias

            A Igreja da cientologia tem se envolvido em um considerável número de episódios controvertidos desde 1958, tais como as batalhas relativas às questões de impostos, uma batalha de dez anos com a Food and Drug Administration (FDA), quanto ao e-meter usado para assistir a “auditoria” e um conflito com o governo australiano. Também, as controvérsias sobre cultos dos anos 1970 levaram a um número de processos judiciais.
            A mais notável série de eventos na igreja começou em Julho de 1977, quando o FBI realizou uma busca nas igrejas de Los Angeles e de Washington e prendeu muitos arquivos de documentos. A busca foi declarada ilegal, mas os documentos permaneceram na posse do governo e foram abertos à investigação pública. De acordo com os documentos, a igreja estava mantendo arquivos sobre pessoas que ela considerava inimigas, e tinha havido várias tentativas de infiltrar nas organizações anticultos. Como resultado da busca do FBI, alguns membros foram acusados e condenados por roubo de documentos do governo. Os membros condenados foram liberados de seus cargos na igreja, a qual iniciou uma reorganização e o fechamento do Guardian Office.           
As estrelas hollywoodianas Kirstie Alley (esq.),
John Travolta e Kelly Preston em uma festa no 
Celebrity Centre de Los Angeles, EUA.
Problemas com o IRS (Internal Revenue Service), a Receita Federal dos americanos, continuou através dos anos 1980 e 1990, e o IRS moveu ações judiciais contra a igreja questionando o seu status de isenta de impostos. Estes problemas acabaram após uma decisão final em 1993, quando o IRS cessou com todos os litígios e reconheceu a Cientologia como uma legítima organização religiosa. A igreja tem também sido atacada na Europa. Uma das batalhas mais significativas aconteceu na Itália, onde um número de funcionários foi acusado de sonegação de impostos e de vários outros atos criminosos, mas foram quitados e a Cientologia finalmente recebeu reconhecimento judicial como uma religião (para detalhes: Urban, 2011; 155-77).
            Em 1991, a revista Time publicou um ataque à Cientologia numa matéria de primeira página, a qual respondeu com uma grande campanha de relações públicas e com uma extensa série de anúncios no US Today. No início de 1992, a igreja entrou com um processo contra a revista Time, após descobrir que o criador do Prosac, um remédio psiquiátrico que a Cientologia combatia ativamente, tinha sido o principal incentivador da agressão da revista Time à Igreja. Apesar destas controvérsias e de muitas outras, a Igreja da Cientologia destaca-se como uma das religiões que mais cresceu no número de seguidores nestes últimos anos (Robinson, 2001: 381-2 e para aprofundamento: Lewis, 2009: 209-322).

O Project Celebrity

            A Cientologia é mundialmente conhecida pelas celebridades que fazem parte do seu séquito. Dentre as mais conhecidas estão Tom Cruise, John Travolta, Priscilla Presley, Kirstie Alley, Issac Hayes e Nancy Cartwright. No entanto, a Igreja da Cientologia não conseguiu arrebanhar estas celebridades por acaso, ao contrário, foi um trabalho planejado. Nas palavras do historiador da religião Hugh B. Urban: “é facilmente possível ver porque a filosofia básica da Cientologia atraiu os atores em particular. Pois, a Cientologia promete nada menos que desencadear o poder ilimitado do individuo, para libertar o potencial infinito do Thetan, na verdade, despertar a habilidade de criar o seu próprio universo. Se a ideia de criar a sua própria realidade foi atrativa aos leitores de ficção científica dos anos 1950, foi ainda mais atrativa para os atores, para os músicos e para os artistas na esperança de despertarem seu próprio potencial criativo. Em segundo lugar, existe dinheiro envolvido, nem todos podem gastar US$ 400 mil para chegar até os níveis OT (Operating Thetan), mas para um Tom Cruise e um John Travolta, esta importância de dinheiro é provavelmente trivial” (Urban, 2011: 140).
Sede luxuosa do Celebrity Centre em Los Angeles, EUA.
Para se ter uma ideia da fortuna envolvida, de acordo com o New York Post, os maiores doadores à Cientologia são: Nancy Cartwright (atriz de voz), a qual doou US$ 10 milhões, seguida de Tom Cruise e Kirstie Alley (atriz) com US$ 5 milhões cada, John Travolta e Kelly Preston (atriz) com US$ 1 milhão cada e Priscilla Presley (ex-esposa de Elvis Presley) com US$ 50 mil (Urban, 2011: 141). O plano de Hubbard de cortejar as celebridades data desde aos anos 1950. “Hubbard explicitamente alvejava as celebridades como potenciais convertidos e instruiu os cientologistas para cortejá-las” (Urban, 2011: 140). Este esforço foi anunciado em 1955 na revista Ability com o título de “Project Celebrity”. O artigo relacionava uma lista de celebridade incluindo Ed Sullivan, Orson Welles, Ernest Hemingway, Greta Garbo e até mesmo Billy Graham. Estas celebridades foram apontadas como “alvos” a serem “caçadas” como um “jogo” por cientologistas ambiciosos. Hubbard prometeu aos seus seguidores que “se vocês os trouxerem para casa, vocês conseguirão uma pequena placa de comemoração como recompensa” (Urban, 2011: 140). No entanto, nenhuma destas celebridades foi atraída para a Cientologia, mas a igreja conseguiu atrair um número de outras celebridades a partir do final dos anos 1960 em diante. O primeiro Scientology Celebrity Centre foi fundado em Los Angeles, no ano de 1960, e foi seguido pela fundação de centros similares em Nova York, São Francisco, Boston, Toronto e outras grandes cidades (Urban, 2011: 140). De lá para cá, a Igreja da Cientologia só acumula aumento no número de celebridades em seu séquito (para aprofundamento: Cusak, 2009: 389-409).

A Dianética

Em 1950, o escritor de ficção científica Lafayette Ronald Hubbard publicou o livro Dianética: a Moderna Ciência da Saúde Mental (exceto quando indicado, todas as citações a seguir são deste livro). Sem qualquer qualificação em pesquisa científica, Hubbard acreditava ter feito uma série de descobertas (“mais importantes que a roda e o fogo”, tal como exalta a contracapa) sobre o funcionamento da mente humana. De acordo com a sinopse, a Dianética é “muito mais simples do que a física ou a química, se compara com elas na exatidão dos seus axiomas e está em um escalão consideravelmente maior de utilidade.” Afirmações bombásticas e contraditórias aos fatos (a física e química não contém axiomas) abundam: “a fonte escondida de todas as mazelas psicossomáticas e aberrações humanas foi descoberta e técnicas foram desenvolvidas para uma infalível cura”.
Apesar das repetidas alegações de que testes e experimentos foram realizados provando definitivamente as conclusões da Dianética, o livro não contém demonstrações matemáticas, descrições de experimentos científicos ou resultados obtidos por outros pesquisadores. A única fonte é a mente do autor. Este afirma que descobriu os axiomas básicos da Dianética em 1938, e que passou os 12 anos até a publicação dedicando-se a pesquisa. Porém, “muitos dos seus amigos insistem, contudo, que esses 12 anos de pesquisa são inteiramente míticos e que não foi antes de 1948 que a Dianética eclodiu” (Gardner, 1957).

A Dianética e os Engramas

O E-meter (Detector de Engramas) utilizado nas
sessões de Auditoria (Auditing)
Em que consiste então a Dianética? Ela fundamenta-se basicamente no conceito de Engrama, “a única fonte de doenças mentais inorgânicas e doenças psicossomáticas orgânicas”. Os Engramas são gravações, distintas da memória, que recordam de maneira exata todos os estímulos vinculados às situações estressoras. Eles são os resultados da ação da mente reativa, definida como sendo a parte inconsciente, mas sempre alerta da mente humana. Ao contrário da mente consciente (batizada de mente analítica por Hubbard e dita análoga a um computador), a mente reativa é uma imbecil, não pensa e nem age racionalmente, ela se limita a gravar e usar as gravações para produzir ações. Mesmo depois de criados, os Engramas só geram problemas se forem digitados; o que faz um Engrama ser digitado varia, mas geralmente uma situação estressora semelhante a original é suficiente. Uma vez gravado e digitado, um Engrama pode ser reativado por qualquer estímulo externo semelhante aos que ele contém e, também, causar todo tipo de inconveniência: “ele desliga a mente consciente em maior ou menor grau, assume os controles motores do corpo e causa comportamentos e ações que a mente consciente, o próprio indivíduo, jamais consentiria”.
Hubbard fornece o seguinte exemplo de gravação engrâmica: “Uma mulher é derrubada por um golpe. Ela fica ‘inconsciente.’ Ela é agredida e chamada de falsa, que ela não presta, que está sempre mudando de ideia. Uma cadeira cai no processo. Uma torneira está aberta na cozinha. Um carro passa na rua lá fora. O Engrama contém uma gravação de todas essas percepções: visões, sons, tatos, gostos, odores, sensações orgânicas, sensações cinéticas, posição das juntas, sede, etc. O Engrama consistiria de todas as afirmações feitas a ela quando estava ‘inconsciente’: os tons de voz e emoções na voz, o som e sensação do golpe original e seguintes, a sensação táctil do chão, talvez o gosto de sangue na sua boca ou qualquer outro gosto presente, o odor da pessoa que a ataca e os odores do ambiente, o som do motor e pneus do carro passando lá fora, etc.”
Esta é, em resumo, toda teoria Dianética. Há capítulos intitulados “o objetivo do homem”, “as quatro dinâmicas”, “a mente analítica e os bancos de memória padrão”, “os ‘demônios’”, “contágio das aberrações”, “digitando o Engrama” entre outros, mas praticamente tudo depende dos Engramas e da influência destes no organismo. A partir destes elementos, Hubbard tenta explicar a origem de todas as doenças mentais, assim como de muitas outras não normalmente associadas à mente como resfriados, artrite, alergias, problemas nos olhos e tuberculose. Hubbard nos informa que há razões para crer que o câncer e a diabete também são causados por Engramas, mas tem o cuidado de advertir que isso é apenas teoria e que os devidos experimentos ainda não foram realizados. Essa não seria, contudo, uma tarefa difícil, pois como veremos a seguir, usando a metodologia Hubbardiana, é possível demonstrar que todas as doenças têm origem em ou são agravadas por Engramas.
Os Engramas aparentemente exercem grande influência sobre a fisiologia humana. O efeito é ainda mais abrangente, ou assim diz a teoria, se informações verbais estiverem gravadas, pois estas serão interpretadas pela (estúpida) mente reativa. Mas isso não é tudo, Hubbard revela outra descoberta revolucionária: os Engramas podem ser gravados antes mesmo do nascimento. “Onde houver células humanas,” afirma, “há Engramas em potencial.” Questões claramente urgentes como ‘qual seria o correlato fisiológico do Engrama?’ ou ‘como poderia uma célula zigótica desprovida de receptores gravar qualquer estímulo externo?’ são convenientemente ignoradas. A vida no útero revela-se muito perigosa: “Mamãe espirra, bebê fica ‘inconsciente’. Mamãe corre leve e alegremente contra a mesa e bebê amassa sua cabeça. [...] Mamãe fica histérica, bebê forma um Engrama. Papai bate na mamãe, bebê forma um Engrama.” O maior de todos os perigos intrauterinos são as tentativas de aborto: “uma grande proporção de crianças supostamente débeis mentais são realmente casos de tentativas de aborto cujos Engramas colocam-nas no medo-paralisia ou paralisia regressiva e as comandam a não crescer, mas a estar onde estão para sempre”.
O ator John Travolta durante uma sessão
de Auditoria, com o uso do E-meter
O seguinte exemplo ilustra como um Engrama pré-natal pode causar problemas mais tarde: “Engrama 105, digamos, foi um momento de ‘inconsciência’ quando o feto foi nocauteado via mãe, pelo pai. O pai, ciente ou não da criança, exclama ‘sua puta suja desgraçada; você não presta!’ Esse Engrama [...] pode jazer lá por setenta anos e nunca ser digitado. Contém uma dor de cabeça e uma queda, e o ranger dos dentes e ruídos intestinais da mãe. [...] Um dia, contudo, o pai fica angustiado com a criança. A criança está cansada e febril, o que quer dizer que sua mente analítica pode não estar desempenhando bem. [...] E o pai esbofeteia a criança e diz ‘seu desgraçado; você não presta!’ A criança chora. Aquela noite ela tem uma dor de cabeça e está muito pior fisicamente. E ela sente um intenso ódio e medo do seu pai. O Engrama foi digitado.”


A eficiência da Dianética

A “infalível cura” encontra-se na terapia Dianética. O objetivo desta é “produzir um Liberto [Release] ou um Limpo [Clear].” O Liberto é o indivíduo que se encontra no meio do processo de cura e não tem mais estresses e ansiedades. Já o Limpo foi completamente curado e tornou-se quase um super-homem. Sua memória agora é fotográfica, seu raciocínio é rápido, ele é física e moralmente superior. Indivíduos incríveis assim destacam-se facilmente. Se a terapia Dianética consegue atingir tal prodígio, onde estariam os Limpos? Um deles foi apresentado por Hubbard em frente a uma grande audiência em Los Angeles em 1950. Era uma moça chamada Sonya Bianca, uma Limpa que supostamente atingira uma memória perfeita. Gardner (Gardner, 1957) relata o evento: “na demonstração que se seguiu, contudo, ela falhou em lembrar sequer uma fórmula de física (a graduação que ela estava cursando), ou a cor da gravata de Hubbard quando este virou as costas. Nesse momento uma grande parte da audiência levantou e deixou o evento. Hubbard mais tarde produziu uma explicação Dianética elegante para o fiasco. Ele tinha chamado-a para o palco dizendo ‘Pode vir aqui agora, Sonya?’ O ‘agora’ deixou-a presa no momento presente.” Até hoje não há registros da existência de Limpos.

A Auditoria (Auditing)

O processo terapêutico é chamado de Auditoria e o papel de quem o pratica, o Auditor, é remover os Engramas. Isso só é possível travando uma espécie de guerra com o Engrama. Primeiro é necessário fazer o paciente regredir na sua linha do tempo até encontrar uma situação que o auditor identifique como um possível Engrama. O auditor pode pedir que o paciente repita várias vezes essa situação. Atacado, o Engrama revida de maneira emocional; o paciente tende a praguejar, chorar e barganhar. Finalmente atinge-se o momento primário de dor ou inconsciência na vida do paciente, chamado de básico-básico. Nesse momento, o Engrama desaparece e o paciente experimenta grande alívio e felicidade.
Uma sessão de Auditoria com o emprego do E-meter
(Detector de Engramas)
Um dos ramos da Dianética é a Dianética Preventiva. Mulheres grávidas são as que devem ter o maior cuidado: “Se ela cair, deve ser ajudada – mas silenciosamente. Ela não deve carregar peso. E não deve ser forçada ao coito. Pois cada experiência de coito causa um Engrama na criança durante a gravidez.” O parto deve ser feito sob pouca luz e em absoluto silêncio. “E silêncio não quer dizer uma barragem de ‘Sh’s’ pois estes causam gagueira.” Durante a vida pós-natal, silêncio completo também deve ser observado durante as cirurgias ou em qualquer outra situação em que o indivíduo se machuque ou esteja inconsciente.

Reflexão final

No capítulo final, intitulado “Dianética no século 21”, os seguidores de Hubbard apresentam a história oficial do movimento. Repleta de exaltações ao líder e seus feitos incríveis, um deles é particularmente digno de nota: “dentro de dois anos da autoria deste livro que você segura em suas mãos, L. Ron Hubbard tornou-se o primeiro a isolar cientificamente e identificar o espírito humano.” Chave para esta descoberta está o instrumento conhecido como e-meter. Apesar de originalmente ter sido inventado pelo quiropraxista Volney Mathison nos anos 1940, o nome na patente é o de Hubbard. Segundo Ronald, filho de Hubbard: “meu pai obteve os direitos do e-meter em 1952 de Volney Mathison da mesma maneira que obtém todas as coisas – através de fraude e coerção” (Carroll, n.d.). Trata-se de uma versão extremamente simplificada de um medidor da resistência elétrica da pele. Hubbard e seus seguidores, porém, acreditam que o e-meter mede os efeitos de uma energia humana desconhecida associada ao espírito. Com essa descoberta Hubbard eleva-se ao status de líder espiritual e funda a religião conhecida como Cientologia, da qual a Dianética é agora apenas uma doutrina.
É impossível ler as elucubrações de Hubbard sem deixar de notar a influência de outro clássico exemplo de pseudociência: a Psicanálise. Há várias semelhanças, vejamos:

Psicanálise
Experiências infantis emocionalmente traumáticas seriam reprimidas e armazenadas no inconsciente. Ao longo da vida esses traumas poderiam ressurgir de maneira distorcida causando os transtornos mentais. Freud acreditava que poderia identificar estes eventos traumáticos infantis dialogando com o paciente e interpretando seus relatos e sonhos (análise). Uma vez identificados e re-elaborados, estes traumas desapareceriam e o paciente melhoraria.

Dianética
Experiências pré e pós-natais, física e emocionalmente traumáticas são gravadas em Engramas na mente reativa. Ao longo da vida esses Engramas poderiam ser ativados e seu conteúdo distorcido pela mente reativa, então causaria transtornos psicossomáticos. Hubbard acreditava que poderia identificar estes Engramas dialogando com o paciente e interpretando seus relatos (Auditoria). Uma vez identificados e repetidos, os Engramas desapareceriam e o paciente melhoraria.

As famosas interpretações freudianas eram, na linguagem de Karl Popper, infalsificáveis, pois não havia experimento possível que pudesse testá-las. O mesmo ocorre com as hubbardianas; basta encontrar uma interpretação adequada e todos os problemas podem ser atribuídos a Engramas. Além disso, assim como Freud, Hubbard criou uma teoria completamente desconectada do conhecimento científico da época, outra característica típica de uma pseudociência. A Dianética, com seu repertório próprio de conceitos e nomes, é fechada em si mesma e ignora (várias vezes até contradiz) quase tudo que já se conhecia em psicologia e neurociência em 1950.
Movimentos como esses tendem a seguir um de dois caminhos possíveis: 1) após a exaltação inicial, seus seguidores se desiludem, vão aos poucos desaparecendo e o movimento finalmente morre; ou 2) frente às críticas, o movimento se fecha ainda mais até chegar no limite máximo da infalsificabilidade, tornando-se uma religião.

Bibliografia

BRUCE, Steve. Religion in the Modern World: From Cathedrals to Cults. Oxford: Oxford University Press, 1996, p. 174s.
CHRISTENSEN, Dorthe R. Inventing L. Ron Hubbard: On the Construction and Maintenance of the Hagiographic Mythology of Scientology’s Founder em Controversial New Religions. James R. Lewis (ed.). London/New York: Oxford University Press, 2004, p. 227-58.
CUSAK, Carole M. Celebrity, the Popular Media and Scientology: Making Familiar the Unfamiliar em Scientology. James R. Lewis (ed.). London/New York: Oxford University Press, 2009, p. 389-409.
DEHSEN, Christian D. Von (ed.). Philosophers and Religious Leaders. Phoenix: Oryx Press, 1999, p. 90.
GARDNER, Martin. Fads and Fallacies in the Name of Science. New York: Dover Publications, 1957.
________________ The New Age: Notes of a Fringe Watcher. Buffalo: Prometheus Books, 1991, p. 246-51.
HUBBARD, L. Ron. Dianetics: The Modern Science of Mental Health. Los Angeles: Bridge Publications, (1956), 2007 . 
________________ Scientology: The Fundamentals of Thought. Los Angeles: Bridge Publications, 2007.
LALICH, Janja A. Bounded Choice: True Believers and Charismatic Cults. Berkeley: University of California Press, 2004.
LEWIS, James R. (ed.) Scientology. London/New York: Oxford University Press, 2009.
MANCA, Terra. L. Ron Hubbard’s Alternative to Bomb Shelter: Scientology’s Emergence as a Pseudo-Science during the 1950s. Journal of Religion and Popular Culture, vol. 24, nr. 01, Spring 2012, p. 80.
MELTON, J. Gordon. Birth of a Religion em Scientology. James R. Lewis (ed.). London/New York: Oxford University Press, 2009, p. 17-34.
MOORE, R. Laurence. Selling God: American Religion in the Marketplace of Culture. London/New York: Oxford University Press, 1995, p. 259s.
RICHARDSON, James T. Scientology in Court: A Look at Some Major Cases from Various Nations em Scientology. James R. Lewis (ed.). London/New York: Oxford University Press, 2009. P. 283-94.
ROBINSON, Jennifer. Scientology (The Church of Scientology) em Odd Gods: New Religions and Cults Controversy. James R. Lewis (ed.). Amherst: Prometheus Books, 2001, p. 379-82.
ROTHSTEIN, Mikael. Science and Religion in the New Religions em The Oxford Handbook of New Religious Movements. James R. Lewis (ed.). London/New York: Oxford University Press, 2004, p. 99-118 e 427-31.
SINGER, Margaret Thaler. Cults in Our Midst: The Continuing Fight Against Their Hidden Menace. San Francisco: Jossey-Bass, 2003, p. 199s e 352s.
STEIN, Stephen J. Alternative American Religions. London/New York: Oxford University Press, 2000, p. 134s.
URBAN, Hugh B. The Church of Scientology: A History of a New Religion. Princeton: Princeton University Press, 2011.
_______________ The Occult Roots of Scientology? Aliester Crowley and the Origins of a Controversial New Religion em Aliester Crowley and Western Esotericism. Henrik Bogdan and Martin P. Starr (eds.). London/New York: Oxford University Press, 2012, p. 335-67.

Websites:
- Opeation Clambake: http://www.xenu.net/
- The Secrets of Scientology: http://www.cs.cmu.edu/~dst/Secrets/
- Carroll, R. T. (n.d.). Dianetics - Scientology - The Skeptic's Dictionary Skepdic.com. skepdic.com. Retrieved June 25, 2013, from http://www.skepdic.com/dianetic.html